O xerife Al Fitzpatrick cavalgava de volta para Flagstaff, ao longo da pista que levava ao rancho Silverbell. Era um pôr do sol de início de outubro e Fitzpatrick pensava na conversa que acabara de ter com o tio, no rancho. E também pensava, agora, na viagem que estava para começar a fazer. Era uma longa viagem até o Montana, mesmo fazendo boa parte dela de trem. Mas isso não o preocupava.
Há muito tempo não pensava em Florence, mas o anúncio fúnebre que lera no jornal do dia anterior mudou tudo. Pensou com calma no que fazer e bem antes do amanhecer já estava de pé. Delegou algumas tarefas a Mendez, o vice-xerife, e passou o dia organizando sua viagem. No final da tarde foi ao rancho do tio para lhe mostrar o recorte de jornal que fizera despertar velhos ódios e recordações. Era um assunto que dizia respeito aos dois, embora somente ele, Fitzpatrick, pudesse fazer algo a respeito.
Agora, ao voltar do rancho, pensava na conversa que tivera. O tio e Mendez eram os únicos que sabiam da viagem, mas só o tio sabia o motivo. Mais cedo Mendez havia perguntado quando ele ia voltar:
- Não sei, Robert - disse o xerife, montando em seu cavalo.
- Mas o que vou dizer às pessoas? Em algum momento elas vão se perguntar onde está o seu xerife.
- Sua tarefa é cuidar disso.
- Mas...
- O cargo de vice-xerife tem suas obrigações, Robert - disse Fitzpatrick, se virando no cavalo. - Adeus.
Fitzpatrick sabia que Robert Mendez podia se virar muito bem em sua ausência. Isso não era motivo para preocupação. Planejava partir de Flagstaff em, no máximo, três horas. Não queria que o vissem partindo e isso também iria evitar um encontro com Mendez, que certamente esperava uma partida pela manhã.
Observando a paisagem, o xerife pensava no que estava por vir. Muito além do horizonte, muito além daquela fina linha de montanhas estava seu destino. Florence, Montana. Após vinte e cinco anos ele iria voltar lá, embora agora devesse restar bem pouco de Florence. Era uma cidade-fantasma. Mas o anúncio fúnebre indicava que em breve ela receberia visitantes bem vivos.
O sol já estava abaixo da linha do horizonte e ele começou a avistar a cidade. Olhava através da imensidão daquela paisagem desértica feita por Deus, se lembrando dos detalhes da conversa que acabara de ter. Se Deus o havia colocado no caminho certo para conseguir sua vingança; se Deus havia contemplado um de Seus filhos com a chance de fazer justiça era obrigação dele fazer Sua vontade. Mas Fitzpatrick sabia que a ação divina não se estendia para além disso. Teria que tomar cuidado com os inimigos que não tivera oportunidade de enfrentar há vinte e cincos anos. Com essa gente não se brinca, pensou ele.
O xerife entrou na cidade pela rua principal e amarrou seu cavalo na frente da delegacia. Se dirigiu para os degraus, entrou rapidamente e fez os últimos preparativos. As celas estavam vazias e isso era uma sorte. Poderia deixar a porta da delegacia encostada e com a chave em cima da mesa, conforme tinha planejado. Mendez chegaria por volta das dez da noite para fazer a troca de guarda.
Já era noite quando o xerife Fitzpatrick deixou Flagstaff, duas horas depois de entrar na delegacia. Era o começo de uma longa viagem em que ele iria reencontrar o passado. E quem sabe o que mais?, pensou. Sua estrela de xerife não estava pendurada na camisa, como de costume. Ia guardada no bolso.
Quando, mais tarde, Robert Mendez se aproximou da delegacia para fazer a troca de turno, logo percebeu que alguma coisa estava errada. Estava tudo escuro lá dentro. Se aproximou, testou a maçaneta, e viu que a porta estava apenas encostada. Abriu a porta chamando pelo xerife. Nada. Acendeu o lampião e percorreu os olhos pelo escritório. Não havia nada fora do lugar e as celas estavam vazias, como naquela manhã. Seus olhos recaíram sobre a mesa, onde a bíblia de Fitzpatrick, que ele conhecia tão bem, estava aberta. A chave da delegacia estava pousada sobre as páginas. Mendez deu um sorriso e entendeu o que havia acontecido. O xerife de Flagstaff tinha partido, sabe-se lá pra onde e deixando a cidade sob sua responsabilidade.
Ele pousou o lampião sobre a mesa, pegou a chave, olhou a página em que a bíblia de Fitzpatrick estava aberta e confirmou que ele havia mesmo partido. Em todos aqueles anos como vice-xerife ele havia aprendido que Al Fitzpatrick sempre lia aquela passagem da bíblia antes de partir em alguma perseguição ou missão perigosa. O cargo de xerife tem seus riscos, Robert. Era o que ele teria dito. Com esse pensamento na cabeça, Mendez leu a passagem bíblica. Era o Salmo 120:
O Senhor é teu guarda,
o Senhor é teu abrigo, sempre ao teu lado.
De dia, o sol não te fará mal;
nem a lua durante a noite.
O Senhor te resguardará de todo o mal;
ele velará sobre tua alma.
O Senhor guardará os teus passos,
agora e para todo o sempre.
Há muito tempo não pensava em Florence, mas o anúncio fúnebre que lera no jornal do dia anterior mudou tudo. Pensou com calma no que fazer e bem antes do amanhecer já estava de pé. Delegou algumas tarefas a Mendez, o vice-xerife, e passou o dia organizando sua viagem. No final da tarde foi ao rancho do tio para lhe mostrar o recorte de jornal que fizera despertar velhos ódios e recordações. Era um assunto que dizia respeito aos dois, embora somente ele, Fitzpatrick, pudesse fazer algo a respeito.
Agora, ao voltar do rancho, pensava na conversa que tivera. O tio e Mendez eram os únicos que sabiam da viagem, mas só o tio sabia o motivo. Mais cedo Mendez havia perguntado quando ele ia voltar:
- Não sei, Robert - disse o xerife, montando em seu cavalo.
- Mas o que vou dizer às pessoas? Em algum momento elas vão se perguntar onde está o seu xerife.
- Sua tarefa é cuidar disso.
- Mas...
- O cargo de vice-xerife tem suas obrigações, Robert - disse Fitzpatrick, se virando no cavalo. - Adeus.
Fitzpatrick sabia que Robert Mendez podia se virar muito bem em sua ausência. Isso não era motivo para preocupação. Planejava partir de Flagstaff em, no máximo, três horas. Não queria que o vissem partindo e isso também iria evitar um encontro com Mendez, que certamente esperava uma partida pela manhã.
Observando a paisagem, o xerife pensava no que estava por vir. Muito além do horizonte, muito além daquela fina linha de montanhas estava seu destino. Florence, Montana. Após vinte e cinco anos ele iria voltar lá, embora agora devesse restar bem pouco de Florence. Era uma cidade-fantasma. Mas o anúncio fúnebre indicava que em breve ela receberia visitantes bem vivos.
O sol já estava abaixo da linha do horizonte e ele começou a avistar a cidade. Olhava através da imensidão daquela paisagem desértica feita por Deus, se lembrando dos detalhes da conversa que acabara de ter. Se Deus o havia colocado no caminho certo para conseguir sua vingança; se Deus havia contemplado um de Seus filhos com a chance de fazer justiça era obrigação dele fazer Sua vontade. Mas Fitzpatrick sabia que a ação divina não se estendia para além disso. Teria que tomar cuidado com os inimigos que não tivera oportunidade de enfrentar há vinte e cincos anos. Com essa gente não se brinca, pensou ele.
O xerife entrou na cidade pela rua principal e amarrou seu cavalo na frente da delegacia. Se dirigiu para os degraus, entrou rapidamente e fez os últimos preparativos. As celas estavam vazias e isso era uma sorte. Poderia deixar a porta da delegacia encostada e com a chave em cima da mesa, conforme tinha planejado. Mendez chegaria por volta das dez da noite para fazer a troca de guarda.
Já era noite quando o xerife Fitzpatrick deixou Flagstaff, duas horas depois de entrar na delegacia. Era o começo de uma longa viagem em que ele iria reencontrar o passado. E quem sabe o que mais?, pensou. Sua estrela de xerife não estava pendurada na camisa, como de costume. Ia guardada no bolso.
Quando, mais tarde, Robert Mendez se aproximou da delegacia para fazer a troca de turno, logo percebeu que alguma coisa estava errada. Estava tudo escuro lá dentro. Se aproximou, testou a maçaneta, e viu que a porta estava apenas encostada. Abriu a porta chamando pelo xerife. Nada. Acendeu o lampião e percorreu os olhos pelo escritório. Não havia nada fora do lugar e as celas estavam vazias, como naquela manhã. Seus olhos recaíram sobre a mesa, onde a bíblia de Fitzpatrick, que ele conhecia tão bem, estava aberta. A chave da delegacia estava pousada sobre as páginas. Mendez deu um sorriso e entendeu o que havia acontecido. O xerife de Flagstaff tinha partido, sabe-se lá pra onde e deixando a cidade sob sua responsabilidade.
Ele pousou o lampião sobre a mesa, pegou a chave, olhou a página em que a bíblia de Fitzpatrick estava aberta e confirmou que ele havia mesmo partido. Em todos aqueles anos como vice-xerife ele havia aprendido que Al Fitzpatrick sempre lia aquela passagem da bíblia antes de partir em alguma perseguição ou missão perigosa. O cargo de xerife tem seus riscos, Robert. Era o que ele teria dito. Com esse pensamento na cabeça, Mendez leu a passagem bíblica. Era o Salmo 120:
O Senhor é teu guarda,
o Senhor é teu abrigo, sempre ao teu lado.
De dia, o sol não te fará mal;
nem a lua durante a noite.
O Senhor te resguardará de todo o mal;
ele velará sobre tua alma.
O Senhor guardará os teus passos,
agora e para todo o sempre.
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