Com um forte sacolejo, o trem da Union Pacific parou em seu destino final, Bozeman. Al Fitzpatrick desceu do comboio e se dirigiu aos vagões dos animais. Estava cansado, mas satisfeito de estar finalmente no Montana depois de uma longa viagem. Dali em diante o percurso seria feito a cavalo até seu destino, Florence.
Cerca de duas horas após seu desembarque, o xerife de Flagstaff já estava montado e a caminho de Florence. Pegou o recorte de jornal e conferiu a data do encontro: 25 de setembro no armazém de Thomas Elliot, perto de Florence, Montana. A viagem deveria levar uma semana, por isso ele estava um dia atrasado. Não faz mal, pensou, meu encontro é em Florence e não no armazém do velho Elliot. Ficou imaginando quantos deles estavam vivos e tinham visto o anúncio no jornal, como ele. No fim das contas, não importava muito. Saberia disso dali um semana, com um pouco de sorte.
Avançar sozinho pela planície não era seguro e exigia suas precauções. Bem antes do anoitecer ele parou e usou seus binóculos para observar ao redor da imensa planície, onde não se via uma árvore. A medida que o sol ia se pondo, Fitzpatrick observava toda a extensão da planície ao seu redor em busca de algum sinal de acampamento ou fogueira. Algum sinal de vida. Após uma última conferida, guardou seus binóculos e começou a tirar a sela do cavalo. Teria que fazer uma fogueira por conta do vento frio do Montana, que vinha das Rochosas.
À beira da fogueira, enrolado em seu cobertor, ele pensava em Florence. O vento frio o fazia recordar da cidade vinte e cinco anos atrás. Ele era apenas um garoto de nove anos e escutava sua mãe:
- Ande depressa, Al. Não olhe pra cima.
Eles estavam voltando para casa pela rua principal e o garoto olhava ao redor. Vários corpos estavam pendurados ao longo das traves do grande Montana Estábulo, enforcados. O vento frio balançava os corpos para frente e para trás, em pequenas oscilações que faziam as cordas rangerem. Mesmo no inverno rigoroso, a decomposição era avançavada e o mal cheiro se espalhava.
Naquela época, Florence não era a cidade-fantasma que viria a se tornar. Era o tempo da corrida do ouro no Montana, e Florence era maior e mais rica do que Dodge City. Sempre existiram dois métodos para achar ouro. E o mais rápido deles não era arrebentar as costas escavando nas montanhas. Quem agia assim era vítima dos assaltantes e ficava com um punhado de moscas na mão. A mortalidade na planície era alta. Ainda não existiam as ferrovias e transportar cargas de ouro pelas montanhas, que já era dificílimo, ficou praticamente impossível. O vale do rio Cascavel nos Montes Cleveland, o Vale da Morte, o desfiladeiro do Cervo Preto; todos os comboios que partiam para Idaho e Utah tinham que passar por um desses três pontos. Os assaltantes eram bem informados e sempre havia alguém lá, esperando. Tentar sair do Montana com ouro significava dar de cara com eles.
Um dia, os mineradores organizaram o transporte de ouro em um grande comboio de voluntários e a sorte mudou. A maioria dos bandidos foi morta na tentativa de assalto e uns poucos caíram vivos nas mãos dos voluntários. Com as informações extraídas, em pouco tempo se formou um comitê de vigilantes, liderados por um coronel aposentado da cidade, visto que o próprio xerife de Florence estava envolvido nos roubos. Uma caçada humana se iniciou na cidade. Várias pessoas suspeitas foram arrancadas de suas casas e enforcadas.
Em um dos últimos enforcamentos coletivos, quando Florence já estava ficando vazia e sem vida, com os primeiros sinais da cidade-fantasma que viria a ser, o pai e o tio de Al Fitzpatrick foram baleados. Um grupo de bandidos adentrou o Montana Estábulo, atirando e berrando, e libertou dois homens. Partiram instantes depois, numa ação rápida. O pai de Fitzpatrick morreu no estábulo e seu tio foi atingido na espinha. Depois de uma semana lutando contra a febre, sobreviveu, mas ficou para sempre incapacitado numa cadeira de rodas.
Em pouco tempo, a família se desfez dos últimos negócios e partiu de Florence para sempre. Poucos meses depois, a cidade ficou deserta.
Enrolado em seu cobertor, o xerife pensava no passado de Florence. Quase de maneira inconsciente, ele enfiou a mão no bolso da camisa e retirou um recorte de jornal; o anúncio fúnebre que o colocara no caminho da vingança, depois de tantos anos:
Todos os amigos e fiéis companheiros choram a
partida prematura de
RAYMOND CORBETT
A quem se lembrar dele, jovem e INOCENTE, pede-se
ir à sepultura do
VELHO, QUERIDO RAY
Levar um sinal de reconhecimento. Encontro no
armazém de Thomas Elliot, perto de Florence,
Montana, em 25 de setembro.
Avançar sozinho pela planície não era seguro e exigia suas precauções. Bem antes do anoitecer ele parou e usou seus binóculos para observar ao redor da imensa planície, onde não se via uma árvore. A medida que o sol ia se pondo, Fitzpatrick observava toda a extensão da planície ao seu redor em busca de algum sinal de acampamento ou fogueira. Algum sinal de vida. Após uma última conferida, guardou seus binóculos e começou a tirar a sela do cavalo. Teria que fazer uma fogueira por conta do vento frio do Montana, que vinha das Rochosas.
À beira da fogueira, enrolado em seu cobertor, ele pensava em Florence. O vento frio o fazia recordar da cidade vinte e cinco anos atrás. Ele era apenas um garoto de nove anos e escutava sua mãe:
- Ande depressa, Al. Não olhe pra cima.
Eles estavam voltando para casa pela rua principal e o garoto olhava ao redor. Vários corpos estavam pendurados ao longo das traves do grande Montana Estábulo, enforcados. O vento frio balançava os corpos para frente e para trás, em pequenas oscilações que faziam as cordas rangerem. Mesmo no inverno rigoroso, a decomposição era avançavada e o mal cheiro se espalhava.
Naquela época, Florence não era a cidade-fantasma que viria a se tornar. Era o tempo da corrida do ouro no Montana, e Florence era maior e mais rica do que Dodge City. Sempre existiram dois métodos para achar ouro. E o mais rápido deles não era arrebentar as costas escavando nas montanhas. Quem agia assim era vítima dos assaltantes e ficava com um punhado de moscas na mão. A mortalidade na planície era alta. Ainda não existiam as ferrovias e transportar cargas de ouro pelas montanhas, que já era dificílimo, ficou praticamente impossível. O vale do rio Cascavel nos Montes Cleveland, o Vale da Morte, o desfiladeiro do Cervo Preto; todos os comboios que partiam para Idaho e Utah tinham que passar por um desses três pontos. Os assaltantes eram bem informados e sempre havia alguém lá, esperando. Tentar sair do Montana com ouro significava dar de cara com eles.
Um dia, os mineradores organizaram o transporte de ouro em um grande comboio de voluntários e a sorte mudou. A maioria dos bandidos foi morta na tentativa de assalto e uns poucos caíram vivos nas mãos dos voluntários. Com as informações extraídas, em pouco tempo se formou um comitê de vigilantes, liderados por um coronel aposentado da cidade, visto que o próprio xerife de Florence estava envolvido nos roubos. Uma caçada humana se iniciou na cidade. Várias pessoas suspeitas foram arrancadas de suas casas e enforcadas.
Em um dos últimos enforcamentos coletivos, quando Florence já estava ficando vazia e sem vida, com os primeiros sinais da cidade-fantasma que viria a ser, o pai e o tio de Al Fitzpatrick foram baleados. Um grupo de bandidos adentrou o Montana Estábulo, atirando e berrando, e libertou dois homens. Partiram instantes depois, numa ação rápida. O pai de Fitzpatrick morreu no estábulo e seu tio foi atingido na espinha. Depois de uma semana lutando contra a febre, sobreviveu, mas ficou para sempre incapacitado numa cadeira de rodas.
Em pouco tempo, a família se desfez dos últimos negócios e partiu de Florence para sempre. Poucos meses depois, a cidade ficou deserta.
Enrolado em seu cobertor, o xerife pensava no passado de Florence. Quase de maneira inconsciente, ele enfiou a mão no bolso da camisa e retirou um recorte de jornal; o anúncio fúnebre que o colocara no caminho da vingança, depois de tantos anos:
Todos os amigos e fiéis companheiros choram a
partida prematura de
RAYMOND CORBETT
A quem se lembrar dele, jovem e INOCENTE, pede-se
ir à sepultura do
VELHO, QUERIDO RAY
Levar um sinal de reconhecimento. Encontro no
armazém de Thomas Elliot, perto de Florence,
Montana, em 25 de setembro.
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